“Todo adulto deve ter bitcoin em seu portfólio”

Em evento promovido por banco no Rio, o head de Investimentos da Transfero Swiss Carlos Russo, diz que o bitcoin é um instrumento interessante de diversificação de patrimônio

Por Carlos Franco Russo  /  5 de fevereiro de 2020
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Todo adulto (até uns 50, 60 anos) deve ter bitcoin em seu portfólio, afirmou o head de Investimentos da Transfero Swiss, Carlos Russo, em evento no Rio de Janeiro. Apesar da volatilidade desse ativo digital no curto prazo, a criptomoeda tem ciclos de quatro anos e, por diversas razões, tende a se valorizar no longo prazo.

“Como diversificador de patrimônio, é muito interessante ter o bitcoin no portfólio. As taxas de juros estão baixíssimas em diversos países e as moedas fiduciárias são inflacionárias. O bitcoin está entre moeda (fácil transação) e commodity (escasso e raro) e sua taxa de adoção tende a aumentar. O ouro representa 5% das carteiras mundiais e o bitcoin apenas 0,5%, sendo que o bitcoin tem características semelhantes ao ouro. As pessoas conseguem se beneficiar e extrair valor do bitcoin de diversas formas”, afirma Russo.

Além disso, a tendência é que a participação do bitcoin nos portfólios de investimento cresça. Um estudo da Charles Schwab identificou que quase 2% do patrimônio líquido dos millennials (nascidos entre 1981 e 1996) está em um dos investimentos mais populares em ativos digitais nos EUA, Grayscale Bitcoin Trust, à frente de ações como Disney, Netflix e Microsoft. E essa participação vem aumentando.

A falta de correlação com ativos do mundo financeiro tradicional também joga a favor do bitcoin. Aliás, a correlação é até negativa. Portanto, em caso de grandes crises mundiais ou eventos de saúde, como o coronavírus, há uma tendência de as pessoas correrem para o bitcoin. Importante dizer que o bitcoin nasceu como uma crítica ao sistema financeiro internacional, que permitiu sucessivas crises. “Eu costumo dizer que quem acredita que o mundo vai continuar caótico, com corrupção, emissão desenfreada de moeda, deve comprar o bitcoin”, afirma o CEO da exchange Foxbit, João Canhada.

Os argumentos a favor não param por aí. A descentralização do bitcoin e impossibilidade de ser fechado por um governo também são pontos positivos. “Se tudo der errado, ele é o último ativo que você vai recorrer se tiver uma catástrofe mundial”, complementa Russo.

uso do bitcoin
Casos de uso do bitcoin vão além do portfólio

Apesar de o bitcoin ser uma reserva de valor que tende a tornar portfólios de investimento mais eficientes, há outros casos de uso das criptomoedas. Por exemplo, os venezuelanos estão usando o bitcoin para transações transfronteiriças. Stablecoins estão permitindo que pessoas e entidades repliquem o sistema financeiro tradicional numa blockchain sem interrupções. Clubes de futebol estão emitindo tokens no contexto de programas de sócio-torcedor para obter financiamento adicional.

Os executivos fizeram esses comentários durante o Santander Fintech Day nesta quarta-feira (5/2), no Rio de Janeiro, promovido pelo Santander e pela Fábrica de Startups. Assim, eles naturalmente inseriram as startups no contexto das criptomoedas. Por exemplo, emissão de tokens para financiamento dessas empresas. Nesse sentido, uma empresa com um projeto inovador pode obter financiamento internacional e remunerar o investidor à medida que os lucros começarem a ser gerados.

“O ICO muda a forma como as pessoas se relacionam com o investimento. Ele inverte a lógica do IPO, porque dá acesso ao pequeno investidor desde o momento zero”, comenta Canhada.

Não deixaram de haver críticas, contudo, ao modo como os primeiros ICOs foram feitos. Para Carlos Russo, os lançamentos de tokens feitos no boom de valorização do bitcoin, em 2017, foram feitos de forma atrapalhada. E em cima de powerpoints  – e não projetos reais e sustentáveis. “Tem muito projeto dessa época com financiamento para 20 anos ainda tentando se desenvolver”, afirma o executivo, que defende existir uma proteção à poupança popular para financiamento desses projetos.

Tokenização de ativos e monopólio do dinheiro

Os executivos também comentaram sobre a tokenização de ativos. Carlos Russo citou o exemplo da Dynasty, que está tokenizando imóveis na Av. Faria Lima, em São Paulo, onde está localizada a nata do setor financeiro nacional. esse projeto vai permitir que investidores comprem tokens que representam uma fração de salas comerciais e sejam remunerados por uma stablecoin, que pode ser trocada por moeda fiduciária ou outra criptomoeda.

As criptomoedas estão mudando a própria noção de emissão de dinheiro. Até então, o Estado detinha o monopólio da emissão do dinheiro, mas isso vem mudando com o bitcoin e o surgimento de moedas privadas globais como a libra do Facebook. “Friedrich Hayek já questionava por que a iniciativa privada não poderia emitir uma moeda”, lembrou Carlos Russo.