Stablecoins dos bancos centrais, isso vai pegar?

Depois do anúncio da libra, o People's Bank of China acelerou os planos de emitir uma criptomoeda soberana, outros bancos centrais vão pelo mesmo caminho?

Por Redação  /  30 de outubro de 2019
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Depois que o anúncio da libra acelerou os planos do Banco Central da China (People’s Bank of China) em ter uma moeda nacional soberana na blockchain, acendeu-se o debate sobre esse movimento. Afinal, será que outros bancos centrais vão emitir stablecoins soberanas? Além disso, emitir uma moeda nacional numa blockchain traz alguma vantagem para os cidadãos?

Para o CEO da Transfero, Thiago Cesar, de uma forma geral, não haveria nenhuma diferença em bancos centrais emitirem stablecoins ou dinheiro tradicional. Ou seja, o Estado continuaria a ser o emissor, poderia emitir livremente a moeda e a emissão não seria auditável. “Uma criptomoeda nacional continuaria a seguir os sabores políticos e econômicos”,  avalia.

O CEO da Foxbit, João Canhada, vai na mesma linha. Ele acha que a emissão da moeda deve ser separada do Estado assim como a Igreja foi separada do Estado há séculos. Ainda assim, Canhada considera que o movimento do PBoC vai provocar outros bancos centrais  a fazerem o mesmo.

Stablecoins privadas têm propósitos diferentes das demais criptomoedas

Nesse contexto, está o papel das stablecoins privadas. Para Cesar, elas não são uma evolução, mas sim criptomoedas criadas para propósitos diferentes. “Por exemplo, o dólar tether surgiu da necessidade das exchanges não conseguirem terem contas bancárias e, por isso, de um instrumento alternativo que representasse o dólar”, explicou o executivo.

“Por exemplo, o dólar tether surgiu da necessidade das exchanges não conseguirem terem contas bancárias e, por isso, de um instrumento alternativo que representasse o dólar”

A Transfero foi uma pioneira no Brasil ao emitir o BRZ, a primeira stablecoin brasileira pareada ao real. Com ela, uma trader consegue, por exemplo, investir em bitcoin ou outros pares de criptomoedas e, quando necessário, deixar de se expor à volatilidade desses ativos.

Diferentemente de um token soberano, as stablecoins privadas são auditáveis e inseridas em um mercado concorrencial. Ou seja, precisam ter confiança e credibilidade para sobreviverem. Ainda assim, como são emitidas por um ente único, podem sofrer a interferência do regulador da jurisdição em que são emitidas. Por isso, a importância de escolher stablecoins emitidas em jurisdições crypto-friendly, como as Bahamas.

O fato é que as stablecoins são baseadas em confiança. “Em que você vai confiar mais, numa entidade que diz que tem um determinado dinheiro digital ou num token numa blockchain imutável e totalmente auditável”, pondera Reinaldo Rabelo, diretor de Novos Negócios do Mercado Bitcoin.

Stablecoins não são boa opção para remessas internacionais

Há quem coloque ainda as stablecoins como instrumentos de remessas internacionais. Esse, contudo, é um tema delicado. Por que o problema de fazer remessas internacionais são as regulações locais. Por exemplo, na Suíça não é necessário ter uma stablecoin para fazer uma operação desse tipo. Já em países com forte regulação, mesmo as remessas em stablecoins sofreriam restrições.

Os três executivos participaram na terça-feira (29/10) de um debate sobre stablecoins no Future Payment, evento vertical do FutureCom 2019, realizado entre 28 e 31/10 em São Paulo (SP).


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