Como os jogos play-to-earn estão mudando o mercado de games?

Alternativa traz uma lógica diferente da que regia o mercado e está ajudando a popularizar NFTs e os criptoativos

Por Redação  /  7 de fevereiro de 2022
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O que acontece quando a gente junta blockchain, economia participativa e games digitais? Um modelo de negócios capaz de transformar uma indústria inteira! O Play to Earn (P2E, que significa ‘jogue para receber’, em tradução livre) é um formato que permite aos usuários coletarem criptoativos, seja em forma de moedas ou de NFTs, enquanto jogam num espaço digital. Atualmente, o modelo está jogando para ganhar na indústria dos games. 

Em entrevista recente dada ao podcast Where it Happens, o cofundador do Reddit, Alexis Ohanian, disse que 90% dos games serão P2E nos próximos cinco anos. E ele ainda explicou: “em cinco anos, o usuário vai valorizar o tempo adequadamente e, no lugar de ficar a mercê para propagandas, ou ser obrigado a comprar objetos que não fazem sentido dentro do game, o usuário estará jogando um game em cadeia, que será tão divertido e trará tanto valor. Então ele será aquele que vai colher o dinheiro”.

Isso porque o P2E consegue subverter um pouco a lógica que regia o segmento de games até hoje: ou o jogador paga para jogar (quando compra games para consoles ou PC, por exemplo), ou ele paga para ser melhor no game (é o caso de jogos freemium ou até mesmo os de console). Afinal, no P2E o usuário ganha para seguir no jogo. Mesmo com o crescimento dos eSports, um mercado que deve ultrapassar os US$ 3 bilhões até 2025, as possibilidades para jogadores “comuns” e não profissionais ganharem algum dinheiro apenas jogando são quase nulas, dando ainda mais relevância para o P2E. 

Play to Earn: Como funciona

Os jogos P2E têm o objetivo de criar um espaço para que usuários possam coletar e cultivar criptoativos que, depois, podem ser trocados em marketplaces terceiros, tudo isso usando a blockchain. Boa parte dos games tem optado por usar os Non Fungible Tokens (NFT) dentro do próprio universo do jogo. É como se as moedas que o Mario coleta fossem, de fato, moedas únicas e pudessem ser vendidas. No P2E, o gamer não é apenas compensado pelo tempo que passa no jogo, como também é estimulado a continuar explorando o ambiente. 

Atualmente, os games desse tipo têm crescido tanto que criaram quase que um setor para si: o GameFi, uma mistura de DeFi (finanças descentralizadas) com o mundo dos jogos. Por ser descentralizado, alguns P2E liberam que um jogador deixe outros minerarem em suas terras virtuais, como é o caso do Alien Worlds. Um outro exemplo é o do game Axie Infinity (o mais popular do modelo P2E), que distribuiu dois tipos de criptoativos, a AXS e a Smooth Love Potion (SLP), além de NFTs de personagens e de território digital no jogo. 

O Axie Infinity é um jogo baseado no Pokemon, da Nintendo. Ou seja, o jogador coleciona vários “monstrinhos” (que são NFTs, portanto, únicos) e batalha com outros para poder aumentar os seus poderes. O jogo usa a blockchain Ethereum, mas roda também em uma sidechain própria chamada Ronin Network. Em janeiro deste ano, a Ronin registrou 560% mais transações que a própria Ethereum em novembro do ano passado. Atualmente, o Axie Infinity tem 2,8 milhões de usuários diários, e tem um marketplace de NFTs que já movimentou US$ 2,6 bilhões. 

Play to Earn: tamanho do mercado

Se de um lado os usuários estão buscando mais esses games, do outro, os investidores estão de olho, levando alguns milhões de dólares para estimular o segmento. A criadora do Axie Infinity, Sky Mavis, foi avaliada em US$ 3 bilhões em outubro de 2021. Já a Sandbox conseguiu levantar investimento de US$ 95 milhões em rodada no final do ano passado. Se juntando a esses bilhões de apostas do mercado nesse segmento de games P2E e meteaverso está a Animoca Brands, sócia da Sandbox e investidora da Axie Infinity, que foi avaliada em US$ 5 bilhões em janeiro.

Do lado do venture capital, há apetite para aportar mais dólares em companhias desse segmento, que têm sido colocada sob o chapéu “metaverso”. No ano passado, a FTX se juntou com a Lightspeed e a Solana Ventures criando um fundo de US$ 100 milhões apenas voltados para o mundo dos games, com foco específico em jogos P2E. Já a Andreseen Horowitz, que já investiu na Axie Infinity e em outras companhias de “NFT Games”, está projetando criar um fundo unicamente para fazer aporte em jogos, com ênfase nos que seguem o modleo P2E.

Tem até investidor focado em crypto que está focando em ter uma estratégia apenas dedicada a olhar empresas P2E, como é o caso de Matt Zhang, ex-Citigroup, que lançou um fundo de US$ 1,5 bilhão em parceria com a Hivermind Capital Partners. 

Gamecoins e GameFi

gamefi

Na vida real, o P2E está ajudando a adoção de criptoativos pelo público. De acordo com o co-dundador da Axie Infinity, Aleksander Larsen, metade dos jogadores do game nunca tinham usado criptomoedas antes de entrar em contato com o jogo. “Nos vemos como educadores”, disse Larsen em entrevista ao Decrypt. Contando as criptomoedas próprias e os NFTs, a Axie tem uma capitalização de mercado de US$ 7,31 bilhões; já o Sandbox tem um total de US$ 635 milhões em valor nos seus criptoativos.

Algumas criptomoedas ligadas a games, como a MANA da Decentraland, e o SAND, da Sandbox, subiram nos últimos dias, mesmo com a queda do bitcoin. Isso sem contar na valorização de tokens como o AXS, do Axie Infinity, que começou 2021 no valor de US$ 0,54 e terminou o ano valendo US$ 150. 

Existem também as criptomoedas que funcionam em vários tipos de games, como o caso da Enjing Coin. Ela funciona em uma variedade de games, e deve ser conectada em um smart contract. A moeda começou 2021 valendo US$ 0,13, e chegou a US$ 4 no meio do ano passado. Aqui cabe falar que, de todos os criptoativos, as moedas de games são os que tem mais risco, já que dependem da popularidade do jogo para continuarem em alta. 

De qualquer forma, a capacidade dos games em criarem a troca de criptomoedas, ou até ativos que podem ser transacionados em um marketplace é o ponto alto do movimento GameFi. Pelo menos por agora, porque já há uma nova onda dentro desse mercado, os IGOs, ou  Inicial Game Offering.  O que significa que gamers podem não só ganhar com o jogo por meio do P2E, mas também investir em novos jogos que estão sendo desenvolvidos via criptoativos. Com as ofertas iniciais de jogos, os jogadores podem ajudar a criar novos games e ainda receber em troca NFTs ou criptomoedas desses jogos que estão se iniciando.

Play to Earn, NFTs e Metaverso 

Se no ano passado, as vendas de NFTs somaram US$ 25 bilhões pelo mundo, muito se deve aos games P2E. De acordo com números da Blockchain Game Alliance, apenas no terceiro trimestre do ano passado, os NFTs de games foram responsáveis por 22% do total de NFTs do mercado. Colocando em perspectiva perto de outros ativos: o marketplace da Axie Infinity é o segundo maior marketplace de NFT da web, ficando atrás apenas da Open Sea. O jogo tem, atualmente, quase 2 milhões de usuários que são donos de NFTs.

A natureza visual dos games faz com que os NFTs façam ainda mais sentido no storytelling: o usuário pode deter uma parte única do jogo. O que também combina com outra palavra “quente” do mercado: o metaverso. Para poder manter os usuários no espaço – e ainda “recebendo” criptoativos enquanto jogam – os games P2E têm enriquecido a experiência visual, se aproximando cada vez mais com o que se entende por metaverso, um mundo virtual compartilhado onde as pessoas interagem, ganham dinheiro e trocam mercadorias apenas no digital. Um exemplo dessa apuração visual dos jogos é o Star Atlas, que, além de estar no blockchain Solana, está utilizando a Unreal Engine 5, responsável pelo gráfico de jogos famosos como o eFootball 2022 e Fortnite, com o objetivo de criar uma experiência imersiva e digital.

“Nós queremos construir uma economia na qual empresários, indústrias e indivíduos possuam recursos para gerar valor dentro deste universo. Isso pode ser qualquer coisa, como a construção de galerias de arte digitais em propriedades dentro do jogo, como museus, ou até mesmo lojas, nos quais você pode expor e comercializar sua coleção pessoal de NFTs com outros jogadores”, explicou o CEO do projeto, Michael Wagner, em entrevista para a revista EXAME. De acordo com Wagner, a ideia ´´e que o Star Atlas receba show de bandas reais, eventos sociais ou corporativos, entre outras atividades que poderão ser “digitalizadas” no metaverso.

Outro exemplo de jogo que está virando um metaverso: o Alien World, game P2E que projeta recriar a terra em seu espaço digital (bem como criar outros planetas “habitáveis”). Ou o caso da Sandbox e a Decentraland, que estão ficando conhecidos por serem o cenário de compra e venda de terrenos digitais: são dois players de games com estratégias P2E. O modelo de negócios, bem como a forma de cobrança e de pagamentos, deve ser observada de perto pelas companhias que querem entrar no metaverso.