Por que a recente correção do Bitcoin não muda em nada os fundamentos da criptomoeda

Apesar da recente correção do Bitcoin, seus fundamentos não mudaram e a criptomoeda continua sendo interessante

Por Guilherme Kinzel  /  28 de maio de 2021
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Nas duas últimas semanas, o Bitcoin passou por momentos de grande volatilidade, o que trouxe impactos a outros criptoativos, e em razão do efeito da colaterização esse impacto foi transmitido e amplificado para todo o mercado. Ou seja, as garantias foram liquidadas daqueles mais desafortunados pegos de surpresa pelo mercado, causando um efeito em cascata em todos os demais ativos.

No mercado crypto há o uso de over-collateralization e cross-collateralization que garantem tanto versatilidade quanto segurança, vide o sistema que se manteve intacto no episódio de grande volatilidade, mas fez com que correções sejam expressivas devido às posições especulativas que usam alavancagem, margens e outras ferramentas operacionais.

Além disso, várias criptomoedas sofreram correção, afetadas por questões como as declarações do CEO da Tesla, Elon Musk, e também as restrições da China à mineração e ao comércio. Outro fato que trouxe insegurança foi o alerta do Banco Popular da China, afirmando que as criptomoedas não devem ser usadas nos mercados financeiros ou na economia, por não serem consideradas “dinheiro real”.

Esse cenário deixou investidores apreensivos, mas vale entender que a volatilidade do Bitcoin não é algo inédito. Os acontecimentos recentes não afetaram o seu protocolo ou seus fundamentos.

Quais são os fundamentos do Bitcoin?

1. Independência

O Bitcoin continua sendo “um órfão” no mercado de ativos digitais, trazendo para si um status de independência em relação às opiniões de seus criadores, diferentemente do Ethereum ou do Binance Coin. Tal como o ouro ou a prata, o Bitcoin não tem nenhuma instituição ou alguém que se declare como “dono”.

2. Consumo energético em evolução

A imutabilidade da rede continua e continuará inviolável, dado o seu protocolo e, apesar dos custos energéticos para isso, é importante ressaltar que o consumo é transparente e a matriz está evoluindo para soluções que priorizam o uso de fontes renováveis. Aliás, a atual pressão na China sobre os mineradores pode se tornar um grande aliado nesse quesito, acelerando essa conversão.

Assim, se condicionarmos o investimento em Bitcoin quando a sua matriz energética for totalmente limpa e consolidada para tal, que é uma questão de tempo, e aguardarmos, perderemos a melhor janela de investimentos – perderemos a oportunidade.

3. Taxa de escassez e crescimento

Quanto aos fundamentos relacionados à taxa de escassez e crescimento, podemos dizer que os modelos Stock to Flow (S2F) e Stock to Flow Asset (S2FX), criados pelo famoso analista conhecido como “PlanB”, são baseados nessa premissa, que em conjunto leva em consideração o halving no protocolo do Bitcoin e o uso de outros ativos como o ouro e a prata para modelagem. O modelo resultante retrata o quanto a moeda digital tem de potencial de valorização.

Essa condição ocorre em função da característica do Bitcoin de ser um ativo de oferta escassa – no total, são 21 milhões, dos quais 18 milhões já estão em circulação. Tal característica pode fazer com que o ativo se torne deflacionário, diferentemente de moedas fiduciárias regulares que podem ser impressas conforme decisões políticas ou econômicas dos governos.

4. Garantia do poder de compra

Dada a atual expansão monetária mundial – que no Brasil foi de 23,14% em 2020 (IGP-M) – a compra de Bitcoin é uma forma de preservar o poder de compra, assumindo o papel de proteção contra a inflação, uma vez que a oferta da criptomoeda é escassa. Pode-se gerar quantidades infinitas de reais, mas não de Bitcoins.

Em relação ao dólar americano, de acordo com os dados disponibilizados pelo Federal Reserve Economic Data (FRED), desde o início de 2020 até o final de 2020 foram criados 20% dos dólares americanos já criados na história. Se você pegasse todos os dólares americanos já criados e colocasse os em cima de uma mesa, 1 em cada 5 foram criados no ano passado – enquanto há cada vez mais dólares americanos em circulação, há cada vez menos Bitcoins disponíveis.

5. Evolução também alinhada às necessidades

O Bitcoin vem evoluindo com o mundo e as suas necessidades. Aliás, a criptomoeda foi o arauto dos cidadãos descontentes em diversos países, diante de deslizes de diversos bancos centrais. Acreditamos que ela seguirá evoluindo, conforme as carências sustentáveis.

Especuladores substituídos por investidores

Apesar de Elon Musk ter protagonizado correções do Bitcoin com meros tuítes, sua influência também atinge outros ativos financeiros, como foi o caso da GME (GameStop Corp.).

Em termos gerais, dada a sua envergadura como empresário e suas ideias disruptivas, suas opiniões realmente podem impactar o mercado. Porém, o Bitcoin está desenvolvendo robustez, com o amadurecimento dos investidores e entusiastas. Hoje, uma parcela considerável de especuladores já deu espaço a investidores.

Até mesmo o Ray Dalio, um dos maiores gestores de investimento do mundo e fundador da Bridgewater Associates, que tem sob gestão mais de US$ 140 bilhões, disse: “eu prefiro ter Bitcoins a um título de dívida”, tradução livre de “I’d rather have bitcoin than a bond”.

 


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