Pandemia pode gerar inflação no longo prazo

Segundo matéria do Financial Times, há algumas razões na crise atual que podem gerar inflação no longo prazo, entre eles o aumento da dívida pública

Por Redação  /  2 de junho de 2020
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O aumento de gastos decorrente das medidas para combate à pandemia de coronavírus pode gerar inflação no longo prazo, de acordo com artigo do editor do Financial Times, Martin Wolf. O argumento está intimamente ligado com o incremento da dívida pública dos países para financiar as medidas de combate ao coronavírus.

A matéria lembra que as medidas tomadas pela Alemanha após a Primeira Guerra Mundial levaram à hiperinflação de 1923. Depois da Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido usou inflação para financiar sua dívida pública de 250% do PIB.

O jornalista lembra que, diferentemente do cenário das duas guerras, a crise já começa com os países com uma dívida pública muito elevada, taxas de juros muito baixas (e até negativas) e inflação baixa. O Japão tinha uma dívida pré-crise de 154% do PIB e a Itália, 121%. Esse cenário pode ser um agravante.

Embora o impacto da crise no curto prazo seja deflacionário, a tendência é que seja no sentido oposto no longo prazo. Índices que medem demanda, poupança e outros componentes já mostram um crescimento forte no início da crise. A combinação de alguns desses componentes com rápida expansão monetária – emissão de moeda – leva a um crescimento de inflação.

No entanto, também é possível que a pandemia tenha reduzido a velocidade de circulação do dinheiro. Ou seja, as pessoas não vão gastar esse dinheiro a mais. Segundo a matéria, o resultado ainda é um pouco imprevisível, mas lembra que inflação dos anos 1970 surgiu de forma inesperada.

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Razões na pandemia que podem levar à inflação no longo prazo

Segundo Olivier Blanchard, do Peterson Institut of International Economics, três são as razões que podem levar a uma inflação pode surpreender: aumento de gastos superiores aos atuais, um grande salto nas taxas de juros necessárias para manter as economias operando próximas ao produto potencial e subordinação dos bancos centrais à necessidade de financiamento barato.

Além disso, segundo o artigo, há mudanças profundas estruturais em curso. O ambiente deflacionário criado pelo aumento das exportações da China não existe mais. A pressão salarial vai aumentar. Quando o aumento dos gastos resultar em inflação, será visto como temporário, ou até mesmo bem vindo, à medida que o peso da dívida for corroído por ela. E a população não vai querer novos cortes. Assim, os governos precisarão de financiamento barato para seus gastos.

Aumento da dívida pública está previsto na tese da Transfero

A atuação dos bancos centrais na crise, que pode gerar inflação no longo prazo, é um dos pilares da tese de investimentos da Transfero. No curto prazo, como consequência de tamanha injeção de dinheiro na economia, haverá uma inflação nos preços dos ativos, porém sem a devida recuperação da economia real. No longo prazo, porém, os próprios fundamentos das economias globais irão se deteriorar com a impressão desenfreada de moeda. É nesse cenário que os ativos digitais se colocam como um instrumento de proteção contra a inflação, com um elevado potencial de valorização.