NFTs revolucionam mercado de arte digital

Os tokens não fungíveis (NFTs) estão revolucionando vários segmentos, inclusive o de arte; para artistas, eles trazem uma nova perspectiva para a comercialização do trabalho

Por Redação  /  30 de novembro de 2021
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Até um passado recente, o mercado de arte digital era bastante restrito. Ou o artista precisava ser muito conhecido, ou acabaria obtendo renda com trabalhos avulsos (e muitas vezes copiados). Mas, com os tokens não fungíveis (NFTs), essa perspectiva mudou. Hoje, quanto mais uma obra artística for copiada e replicada, mais ela se torna conhecida – o que resulta na valorização da produção original e também das demais peças do mesmo autor.

“Hoje ainda é possível que qualquer pessoa copie um arquivo .png, mas será somente uma cópia. Quanto mais esse arquivo for copiado e reproduzido, mais valorizada a obra original se torna. Por exemplo, qualquer um pode comprar uma gravura da Mona Lisa, mas ela nunca terá o valor da obra original. E quanto mais pessoas conhecerem a obra original, maior será o seu valor”, ilustrou o artista digital Fesq, que participou da ABFintechs, discutindo o tema ao lado da especialista e desenvolvedora blockchain, Solange Gueiros.

NFTs são smart contracts que garantem autenticidade

De acordo com Solange, para entender melhor esse conceito é preciso compreender a diferença entre fungível e não fungível. “Um token fungível pode ser trocado por outro, de mesmo valor. Duas cédulas de US$ 100 têm o mesmo valor, assim como 2 bitcoin. Já o não fungível não pode ser substituído, trata-se de algo único que não pode ser trocado por outro item igual, pois não existe esse igual”, explicou.

Daí a designação do NFT (token não fungível). “Um NFT é, na verdade, um smart contract com determinadas características programadas em blockchain, que depois de publicado não pode ser mais alterado. Assim, torna-se único”, acrescentou.

Por isso eles vêm sendo utilizados em diversos segmentos, seja para representar itens físicos ou não (especialmente no caso de games e aplicações do metaverso). No mercado artístico, os NFTs são uma forma de registrar a produção autoral. “Isso deu mais valor ao nosso trabalho”, afirmou Fesq, que recentemente assinou uma parceria com a Nissan para produzir obras em NFTs exclusivas para cada uma das unidades vendidas do novo Nissan Kicks Xplay, modelo que terá edição limitada.

Smart contracts garantem regras para cada NFT

Para Solange, uma das grandes vantagens de usar NFTs para a venda de obras de arte é a possibilidade de programar determinadas características do smart contracts em blockchain. “O artista pode, por exemplo, estipular que será comissionado a cada vez que a arte for revendida”, sugeriu. Na prática, isso significa que se a obra se valorizar e no futuro for novamente vendida (por valor maior), os direitos autorais estão garantidos.

“As possibilidades são infinitas”, disse Solange. “É possível estipular que a obra não poderá ser revendida por um determinado período de tempo, criar remuneração para os artistas no caso de revenda ou exposição e até vincular a NFT a produtos reais”, afirmou. De acordo com a especialista, eventos do mercado crypto utilizam NFTs para distribuição de brindes, pagamento de refeições e até ingressos.

“Em um evento recente, os participantes receberam NFTs para pagamento de refeições em food trucks parceiros. Isso atestou não somente a usabilidade, mas também serviu para a organização identificar quais os fornecedores mais procurados e contabilizar o que foi consumido, o que resultou em dados que demonstraram as preferências do público-alvo e permitiram a realização do repasse aos prestadores de serviço em uma única transação”, ilustrou. Outros usos citados foram ingressos para participação e troca por brindes físicos.

Outras possibilidades

“Além de tais ações, os NFTs propiciam outras oportunidades. Por exemplo, o organizador do evento pode pode fazer campanhas pós-evento ou mesmo ações direcionadas para os detentores dos tokens, valorizando ainda mais a sua marca e estratégia”, lembrou Fesq.

Os participantes citaram alguns cases recentes de NFTs, como o da NFT Replicator, desenvolvida pelo artista Mad Dog Jones, que a cada 21 dias se duplica. “O comprador terá, praticamente, uma renda passiva com a replicação e revenda dos NFTs”, disse Fesq.

Para Solange, o mercado de games e as aplicações de metaverso serão os novos catalisadores das NFTs. “Não existe metaverso sem NFTs”, afirmou.

Porém, a maior parte dos tokens é desenvolvida em Ethereum. “Quando a rede está congestionada, os custos de gas tendem a ser maiores, pois as pessoas querem transações rápidas”, apontou, mencionando que, por essa razão, muitos artistas estão passando a desenvolver os NFTs em outras redes. “Na Solana, os colecionáveis tiveram maior apelo, assim como os games, enquanto a arte foi mais para o Tezus”, disse Fesq.