Na Suíça, combinação de inovação e regras favoráveis atrai empresas

País foi pioneiro na regulação do setor crypto e ocupa, há dez anos, o topo de ranking mundial de inovação

Por Redação  /  24 de novembro de 2020
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O fato de o berço do Crypto Valley — polo de empresas do setor crypto — ser um cantão da Suíça não é fortuito. As características do pequeno país europeu, como sua veia inovadora e uma legislação amigável e pioneira, por exemplo, o tornam especialmente atraente para as companhias do setor.

De olho não só em levar suas empresas para o mundo, mas também em atrair negócios para a Suíça, o país criou uma agência oficial para facilitar esse processo. Os Swiss Business Hubs estão espalhados pelo mundo, e um deles fica no Brasil.

Bruno Aloi, deputy head do Swiss Business Hub Brazil, explica que pelas dimensões e população pequena, a Suíça sempre quis atrair o comércio e serviços bancários. Portanto, não só o país tem tradição no setor financeiro, como também acompanha de perto as inovações.

Assim, observa Aloi, em 2012, quando se aprovou o fim do sigilo bancário no país, a Suíça viu nas novas tecnologias financeiras — o bitcoin surgira apenas 3 anos antes — a oportunidade para se reinventar.

tecnologia blockchain
‘Referência mundial’

“Eles abraçaram a questão da tecnologia financeira, do blockchain, das criptomoedas. A partir disso, criaram toda uma nova indústria e, hoje, são referência mundial nisso”, destaca.

Desta forma, antes de haver uma regulação específica para o crypto, o governo criou normas. Isso “deu uma certa segurança jurídica e isso começou a atrair as empresas para se instalarem lá. Contando, também, com toda tradição suíça de estabilidade e segurança”, explica. Segurança que é, justamente, o que essas empresas buscavam.

O primeiro a abraçar, de fato, este mercado foi o cantão de Zug, que começou a aceitar o pagamento de impostos em bitcoin. A partir disso, a Finma (regulador do mercado financeiro na Suíça) criou uma regulação que não existia em nenhum lugar do mundo.

Nesse cenário surgiu o Crypto Valley, que hoje já extrapola as fronteiras suíças e inclui áreas do vizinho Liechtenstein. Um relatório do CVVC apontou que havia 919 empresas de blockchain no primeiro Crypto Valley no primeiro semestre de 2020. A atração das empresas se explica, especialmente, por três motivos, afirma Aloi. O primeiro é uma legislação amigável aos negócios.

“O regulador na Suíça não está lá para atrapalhar a empresa. E toda regulação é feita com a participação de pessoas atuantes no mercado”, diz. “Claro que o governo e os reguladores vão se assegurar de que as leis vão ser cumpridas e de que não vai haver lavagem de dinheiro nem atividades ilícitas. Mas eles não vão fazer disso um impeditivo para a atividade empresarial”, acrescenta. E isso dá segurança regulatória, avalia ele.

empresas suica
Na Suíça, autoridades dialogam com empresas

Além disso, ele destaca a constante conversa entre reguladores e negócios. Segundo ele, quando as empresas estão fora das regras, a tendência é que as autoridades dialoguem e busquem a adequação. Como terceiro fator, ele lista o foco da Suíça para a inovação. Não à toa, o país ocupa, pelo 10º ano seguido, o topo do Global Innovation Index, que mede os índices de inovação de 131 nações.

Outro fator positivo na regulação crypto suíça é sua neutralidade tecnológica, explica Aloi.

“A Suíça não criou nenhuma lei específica para o blockchain e os criptoativos. Ela pegou as leis que já existiam e deu uma orientação. Então, a lei é fundamentada em princípios gerais e não em uma tecnologia específica. Por isso ela foi muito rápida em se adaptar às inovações”.

Segundo Aloi, houve um boom de empresas brasileiras buscando o Swiss Business Hub Brazil querendo se instalar na Suíça entre 2017 e 2020. Agora, no entanto, ele acredita que a tendência é a estabilidade. Assim, papel do hub é assessorar a empresa na instalação na Suíça. Portanto, atua desde a avaliação do projeto até a ponte com os cantões interessados.