Stablecoins podem coexistir com moedas digitais dos bancos centrais

Stablecoins e CBDCs podem coexistir, cada qual com sua função; essa é a conclusão de reguladores e emissores de stablecoins em evento do Crypto Valley Association

Por Redação  /  24 de junho de 2021
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Em praticamente todo o mundo (mais de 80% das nações), as moedas digitais emitidas por bancos centrais, ou CBDCs, na sigla em inglês, estão em discussão. Elas não devem substituir o dinheiro fiduciário, mas sim serem uma alternativa para simplificar as transações e até democratizar o acesso aos sistemas financeiros. Com sua implementação, as stablecoins, que também são moedas digitais com algum tipo de lastro, mas descentralizadas, têm futuro?

Esse foi o tema de um amplo debate sobre regulação e perspectivas para as stablecoins privadas, realizado pela Crypto Valley Association, em 22 de junho. Para o CEO da Transfero, Thiago Cesar, que participou da mesa redonda, uma coisa não invalida a outra. De acordo com ele, pelo contrário: ao começar a utilizar uma CBDC, o usuário se sente mais seguro para entrar no mercado crypto. “É uma forma de acesso, pois permitirá que as pessoas entendam como funciona a tecnologia e passem a confiar mais na digitalização, o que facilita sua entrada no universo dos criptoativos”, afirmou.

Para Cesar, um dos grandes pontos positivos do evento para o mercado nacional foi o fato de que o BRZ foi a única stablecoin criada por um país emergente presente. “O Dukascopy Bank, que promoveu o debate, inclusive aceita o BRZ como meio de pagamento. O BRZ é a maior stablecoin  de um país emergente, fora o dólar e o euro, sendo maior e mais relevante em termos de volume”, afirmou.

Stablecoins solucionam problemas das moedas tradicionais

Além disso, na avaliação de Cesar, as stablecoins surgiram para solucionar alguns problemas inerentes ao dinheiro fiduciário. “Quando a stablecoin é pareada a uma moeda forte, como no caso do Theter (USDT), cuja unidade vale um dólar americano, o grande benefício é a simplificação de transações internacionais, que ganham agilidade e têm custos reduzidos”, explicou.

Já no caso de stablecoins criadas em países emergentes, como no Brasil (caso do BRZ), existem ainda algumas vantagens extras. “No Brasil, nem sempre é simples comprar outra moeda, normalmente a conversão é feita do real para o dólar, e em seguida do dólar para a moeda em questão. Com isso, o usuário arca com todas as taxas decorrentes do câmbio”, afirmou. Além disso, de acordo com Cesar, quem precisa fazer uma remessa internacional de valores ganha agilidade. “Se o indivíduo que está no Brasil precisa fazer um pagamento hoje, na China, por exemplo, a transação é mais simples usando um criptoativo. Pelas vias tradicionais, o tempo da transação é maior, o que pode até comprometer a negociação, além de as taxas serem elevadas”, disse.

CBDCs e stablecoins podem coexistir

Cesar destacou que o Brasil deverá implementar, em breve, o real digital, mas que não considera que isso seja um problema para o BRZ. “Trata-se de apenas mais uma forma de pagamento ou transferência, que dará maior poder de escolha ao consumidor. Será possível fazer um pagamento com o dinheiro convencional (cédulas), com meios de transferência eletrônicos, com CBDC ou stablecoin. Isso já acontece hoje, quando a pessoa escolhe entre pagar com cartão de crédito, débito ou dinheiro”, exemplificou.

Sua visão é compartilhada pelo representante do Conselho de Administração do Banco Nacional da Suíça, Thomas Moser. Segundo ele, “moedas emitidas de forma privada e aquelas emitidas pelo estado sempre coexistiram”. Moser lembrou, ainda, que CBDCs nada mais são que versões virtuais do dinheiro tradicional.

Qual o futuro do dinheiro?

Durante o evento, reguladores e representantes de bancos centrais de Cingapura, Suíça, Austrália e União Europeia discutiram os planos para adoção de CBDCs e a perspectiva para as stablecoins nesse cenário, com a participação de algumas empresas privadas emissoras de moedas digitais.

Na Europa, várias nações já deram os primeiros passos. A França, por exemplo, acabou de testar o uso de uma CBDC para  liquidação de títulos, com o lançamento de uma moeda digital em uma blockchain pública. Os testes ainda devem durar algum tempo e, vale lembrar, o país não emite a própria moeda, pois utiliza o euro.

De qualquer maneira, a Europa está progredindo e avançando mais rápido que os Estados Unidos, onde o dólar digital ainda está em fase de estudos. Já a China tem o projeto de CBDC mais avançado do mundo, com o yuan digital.

Na avaliação do CEO da Transfero, qualquer empresa privada em qualquer lugar do mundo, ao emitir stablecoins deve olhar para questões regulatórias.”É o que fazemos no Brasil, buscando melhores práticas e o que é mais inovador no mundo regulado”, afirmou.

Além de Thiago, da Transfero, que responde pelo BRZ, participaram também Huw Rogers, da Paxus, emissora da PAX (USD), e Gustav Arentoft, da MakerDAO, da DAI (USD). Outros painelistas foram o CEO da CoreLedger, Johannes Schweifer, que criticou fortemente as stablecoins algorítmicas, que não são atreladas a moedas fiat ou outros ativos físicos, como metais preciosos ou commodities, mas cujo fornecimento é definido por algoritmos e smart contracts, e o COO da blockchain Stellar Foundation, que lançou a USD Coin (USDC), Jason Chlipala. “Essa é uma das maiores blockchains do mundo, que acredita na força e potencial das stablecoins privadas”, diz Cesar.


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