PanoramaCrypto entrevista: Luiz Calado da ABCripto

Em entrevista ao PanoramaCrypto, o presidente da recém-fundada Associação Brasileira de Criptoeconomia comenta as perspectivas do segmento

Por Redação  /  10 de outubro de 2018
Luiz Calado, presidente da ABCripto Luiz Calado, presidente da ABCripto

Em entrevista ao PanoramaCrypto, o presidente da associação ABCripto, Luiz Calado, fala sobre a relação com o regulador brasileiro, do lançamento do índice BTC em reais, participação em eventos, integração com os bancos e as proridades do segmento cripto, entre outros assuntos.

Fundada em setembro de 2018, a associação que reúne mais de 30 empresas de diversos portes no segmento de cripto, vê com otimismo o desenvolvimento do mercado. As movimentações da CVM, o projeto de lei no Congresso e o crescimento do setor mesmo com o Bitcoin andando de lado levam a associação a enxergar um cenário positivo para o segmento.

Como surgiu a ideia de fundar a ABCripto?

As conversas para fundar uma associação começaram em 2014, mas ganharam força no ano passado, quando o Congresso começou a discutir um projeto de lei (relativo a criptomoedas). Isso deu força para formarmos um agrupamento para termos uma interlocução com o governo. Havia ainda uma série de demandas do segmento, como ter um código de ética, autorregulação das corretoras, criação de uma certificação profissional, etc. Essas duas vertentes ajudaram o mercado a se reunir.

Quantos empresas são associadas à ABCripto?

Hoje são mais de 30 associados, inclusive portais de informação e empresas de blockchain. Há empresas com mais de 100 funcionários e outras menores, com dois ou três profissionais. Nossos grupos de trabalho têm mais de 120 participantes.

E hoje qual seria a principal urgência do mercado de cripto?

O mercado não tinha uma fonte construída em conjunto que desse a cotação do Bitcoin em reais. Existem algumas fontes, mas são iniciativas individuais. Não existia uma discussão de qual deveria ser a metodologia do índice. A ABCripto fez isso e vai lançar um índice no final desse mês.

Qual a importância desse índice?

Por exemplo, o uso de Bitcoins como meio de pagamento. Com o índice, você dá transparência no comércio de que você usou um preço de mercado.

Há alguma iniciativa para popularizar o Bitcoin com meio de pagamento?

Isso já foi discutido na ABCripto, mas vai ser melhor priorizado no próximo ano. Como já existem várias iniciativas e o sucesso dessa depende de outras que estão em andamento, como o próprio índice de Bitcoin. A autorrregulação das exchanges também ajuda nisso.

Como vocês avaliam o cenário atual do mercado de cripto no Brasil?

De forma muito positiva. O número de profissionais engajados no setor tem aumentado consideravelmente. Além disso, este ano um banco anunciou a compra de um percentual acionário em uma corretora cripto. Outra grande corretora anunciou que vai operar criptomoeda também. O segmento mostrou que é mais forte do que a cotação dos criptoativos. No passado houve um boom muito grande e nosso receio é que ele ficasse associado ao aumento de preço. Neste ano, mesmo com o mercado indo de lado, a gente vê que o interesse continuou.

Há perspectivas de fomentar estudos e desenvolvimento de projetos relacionados a criptomoedas e blockchain nas universidades?

Uma série de escolas está voltando a atenção a esse segmento. A FGV, por exemplo, lançou agora um mestrado profissional no segmento de criptoeconomia. Temos realizados eventos sobre assuntos desse mercado, que é uma forma de fomentar as discussões. Este mês teremos dois.

No dia 16, em São Paulo, vai ter um evento com o responsável do BNDES do blockchain. No dia 31 de outubro, data bem emblemática para o nosso segmento, vai ter o evento do índice Bitcoin Brasil e da certificação profissional. Estamos planejando também ter embaixadores em outras regiões do país.

O que mais é necessário em termos de regulação e desenvolvimento do mercado para as criptomoedas se popularizarem no país?

A CVM realizou na semana passada alguns eventos sobre criptoeconomia. Isso dá confiança para que investidores coloquem dinheiro nesse mercado. Quando você coloca o dinheiro em algo que o regulador já se mostrou a favor, isso dá um incentivo a mais. Há uma expectativa muito grande que isso possa acontecer. A ABCripto tem mantido contato também outras associações. Por exemplo, temos um acordo com uma associação de crowdfunding para oferecer uma proposta única de mercado e mostrar para o regulador. Se o regulador aprovar, será muito favorável ao segmento.

Como é a interlocução com a Câmara e com a CVM?

Existem grupos de trabalhos temáticos. Ao todo, são 16 grupos de trabalho. Um deles é o de legislação, que é o responsável pela interlocução com a Câmara e com as pessoas formadoras de opinião por lá. Outro grupo é relativo à regulação de investimentos em criptoativos em nome de terceiros, como se fossem fundos cripto. Esse grupo está estruturando uma autorregulação.

Quando isso tiver evoluído mais, eles passam para uma sessão de conversa com reguladores e autorreguladores. Outro grupo é o de autorregulação das exchanges, com regras mínimas de atuação e prevenção à lavagem de dinheiro. A ideia é que o mercado cripto tenha nível de exigência igual a qualquer outro segmento da área financeira e que esteja exposto ao mesmo tipo de risco.

Como a associação vem acompanhando os movimentos da SEC na regulação das criptomoedas?

No final de novembro haverá uma missão técnica a Nova York da qual participaremos. Há vários nomes de lá confirmados. A proposta é levar representantes do regulador brasileiro e do governo para que possam assistir como os EUA estão regulando o tema. Essa é uma outra forma de interlocução com o regulador.

A SEC e o BitLicense têm uma regulação já publicada ou em discussão para o segmento. Algo que está para ser aprovado há alguns meses é a questão dos ETFs. Uma vez aprovados, vai ser muito positivo para o segmento e inclusive vai inspirar reguladores a adotarem a mesma postura. Hoje você tem países com legislação muito favorável, como Malta e Estônia, mas quando uma economia do porte dos EUA regula, a força disso é muito maior.

E como a ABCripto está vendo o encaminhamento das eleições presidenciais?

Enviamos uma carta aos candidatos à presidência com o posicionamento da ABCripto. Passada a etapa de votação, faremos esse mesmo esforço em outros níveis. Vamos mandar uma carta aos deputados eleitos e senadores. Já temos um mapeamento de quais deputados e senadores já se manifestaram favoravelmente ao segmento.

Você vê risco de retrocesso dependendo do candidato que ganhar as eleições?

Com as informações que temos até o momento, não parece haver nenhum risco, nem um movimento muito favorável. Eu ficaria neutro, nem otimista, nem pessimista.

Como você vê a integração dos grandes bancos com o mercado cripto?

Existe um GT que estuda como a integração do sistema financeiro com as criptomoedas pode ocorrer. Uma das possibilidades é constituição de uma instituição de pagamentos para cripto. Além de naturalmente de integrar com os players já conhecidos. Algo que costumamos falar é que nosso interesse é se relacionar com os bancos de forma que possibilite que o segmento de criptomoedas no Brasil possa se desenvolver.

Você vê essa maior integração acontecendo no curto prazo?

Vejo um grande interesse. Todos os bancos grandes já anunciaram que têm iniciativa em blockchain. O BNDES em particular tem o token. Eles já fizeram uma chamada pública. Está em audiência agora uma futura contratação para isso. É questão de tempo para tudo isso ficar integrado. O que precisa acontecer é esse diálogo, que já ocorre, com essa troca de experiência entre os profissionais de cripto e os do segmento bancário. No mundo inteiro existe uma migração de gente que trabalhava em banco e está indo trabalhar na criptoeconomia.


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