Com apenas 1,3 milhão de habitantes, a Estônia, que fazia parte da União Soviética até o início dos anos 90, é conhecida como o país mais digitalizado do mundo. Depois de se juntar ao bloco ocidental, sua modernização foi bastante expressiva. Hoje, praticamente a totalidade dos serviços públicos são digitais e até mesmo o direito de voto é exercido pelos estonianos via internet (desde 2005).
Além disso, lá existe um programa de estímulo para startups e inovação, o que faz com que a Estônia tenha a maior quantidade de unicórnios (empresas que valem mais de US$ 1 bilhão) per capita da Europa. “As ações de digitalização eliminam a burocracia da vida do cidadão, o que traz ganhos de eficiência sensacionais”, destaca o CEO da Transfero, Thiago Cesar, que no momento reside no país e que fez o programa de e-Residency em 2018.
e-Residency: identidade digital da Estônia
“A e-Residency é, basicamente, uma identidade digital, que visa a integração do país com o mundo global de negócios. Ou seja, pessoas do mundo todo, que tenham boas ideias ou boas iniciativas podem estabelecer empresas aqui, de maneira rápida, não-burocrática e segura, inclusive juridicamente”, explica Thiago.
Essa identidade não é a mesma coisa que cidadania, mas é uma ferramenta que permite a possibilidade de abrir uma empresa dentro da União Europeia, ter uma conta bancária e assinar documentos, de forma totalmente online.
Desde a criação do programa, 16 mil empresas foram criadas e a Estônia tem, atualmente, 80 mil residentes digitais. Destes, 725 brasileiros possuem residência digital estoniana e 122 deles têm empresas no país.
Por ocasião do início do programa, o governo do país fez uma declaração oficial: “enquanto alguns países expulsam as pessoas, a Estônia as traz para dentro. Que tipo de problemas a e-Residency pode resolver para um empreendedor? Digamos que você seja um escritor freelancer na Ucrânia e precise receber pagamentos internacionais. A e-Residency permite isso. Ou talvez você tenha uma startup na Índia e precise de investimento de outros países para ajudar a escalar internacionalmente? e-Residency permite”.
Recentemente, o programa chegou ao Brasil e, agora, é possível fazer todo o processo para solicitação da e-Residency em São Paulo. “Como o primeiro Estado digitalmente transformado do mundo, a Estônia tem o prazer de receber ainda mais freelancers, empresários, proprietários de negócios e trabalhadores independentes de todo o mundo para se juntarem ao nosso programa de e-Residency”, disse a presidente Kersti Kaljulaid, em nota à revista Exame.
Nômades digitais são beneficiados pelo programa
O país báltico também atrai os chamados nômades digitais, pois lá é permitido trabalhar (legalmente) à distância. Com a pandemia, que trouxe a necessidade de repensar o trabalho remoto, a Estônia alterou sua legislação para criar um novo visto, que agora permite a estadia por um ano (enquanto o visto de turismo, na Europa, é de apenas três meses).
Até então, quem pretendia trabalhar de forma remota na União Europeia não tinha uma condição específica, precisando obter visto de turismo ou de trabalho para permanecer legalmente.
5 curiosidades sobre a Estônia
Além da digitalização e essa característica de abertura ao empreendedorismo e inovação, existem outras razões que chamam a atenção do mundo para o pequeno país báltico.
1. País blockchain
“Alguns governos têm procurado usar a blockchain para melhorar a eficiência de questões burocráticas. Como a Estônia é um país pequeno, com população homogênea e nível educacional alto, isso foi muito mais simples”, comenta Thiago.
Do ponto de vista técnico, a blockchain aumenta a eficiência, fornece proteção de dados e transparência. Na Estônia, as mudanças surgiram a partir da digitalização, eliminando a burocracia e, ao mesmo tempo, aumentando a segurança dos registros, por meio de estratégias de e-Government.
2. Estímulo ao empreendedorismo
“As mudanças estão fazendo com que a Estônia se transforme em um celeiro de inovação, tanto na Europa quanto no mundo”, diz o CEO da Transfero, que escolheu o país justamente por causa do suporte às iniciativas empreendedoras, que permitem explorar o mercado europeu, tendo a Estônica como base.
Muitas empresas que surgiram na Estônia, como a Transferwise e o Skype, já se tornaram globais. Além disso, mesmo quem não é empreendedor encontra boas oportunidades de trabalho no país, mesmo sem falar estoniano – afinal, lá estão sediadas empresas de todo o mundo!
3. Educação de alto nível
De acordo com o ranking 2018 (último disponível) do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), o país tem a melhor educação da Europa (e do Ocidente).
“A educação é valorizada pela sociedade, o acesso é universal e gratuito e há ampla autonomia (de professores e escolas). Os estonianos realmente acreditam que a educação abre uma ampla gama de possibilidades”, disse a ministra da Educação e Pesquisa do país, Mailis Reps, à BBC News Brasil.
4. Preservação e história
Desde 1997, a Old Town de Tallinn é considerada pela UNESCO uma das cidades medievais mais bem preservadas da Europa. Além disso, em todo o país existem históricos de grande interesse, tais como a prisão submersa de Rummu ou o cemitério de carros ao ar livre de Vanatehnika Varjupaik, que exibe veículos que circularam na Era Soviética.
Do ponto de vista de preservação da natureza, a Estônia, junto com a Finlândia e a Islândia, tem o ar mais limpo do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais da metade do território do país (51%) é coberta por florestas.
5. Elevado IDH
A qualidade de vida na Estônia vem melhorando ano a ano e, hoje, o país tem um dos melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) do mundo.