Entrevista: Informação é a chave para aproximar mulheres do bitcoin

A head de Business Development da Transfero Swiss, Juliana Walenkamp, diz que combate o preconceito que, sim, existe, com conhecimento

Por Redação  /  17 de janeiro de 2020
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Informação é a melhor maneira de aproximar as mulheres do mercado de bitcoin e outras criptomoedas. E quem diz isso é uma das poucas mulheres que trabalham na área, a head de Business Development da Transfero Swiss AG, Juliana Walenkamp. Mas para ela é preciso também uma mudança na educação financeira das famílias. Juliana conta ainda como foi parar numa empresa do setor e a importância do bitcoin no empoderamento das pessoas, não só das mulheres. Leia a entrevista na íntegra.

Você passou pela área comercial de várias empresas até cair numa empresa de criptomoedas, como foi isso?

Eu trabalhava em uma DTVM – distribuidora de títulos e valores mobiliários – fazendo o desenvolvimento comercial da área de câmbio e também apoiando a criação de uma empresa de trading para os mesmos sócios em paralelo. Um amigo pessoal tinha um cliente que estava com dificuldades para uma operação de remessa cambial, falei que poderia ajudar a desenvolver uma solução. Esse cliente era justamente a Transfero, que estava com dificuldades de fazer a transferência internacional para compra de moedas digitais em outras jurisdições. Então eu mergulhei a fundo nesse assunto para tentar entender a melhor maneira de operacionalizar. Acabei tendo empatia pelo mercado e fui estudando cada vez mais, ia percebendo seu valor e potencial em cada nova descoberta. Consegui no final fazer a operação de câmbio acontecer e um tempo depois recebi a proposta do Thiago Cesar, CEO da Transfero, para desenvolver a área comercial.

E o que te levou a acreditar no bitcoin como uma nova classe de ativos naquele momento em que o mercado ainda era pouco maduro?

Como eu disse, eu estudei muito a área de criptomoedas e quis entender bem o potencial da blockchain. Percebi que os ativos digitais eram um instrumento de liberdade, além de uma grande inovação para o setor financeiro. No que diz respeito a transferências internacionais sempre tive problemas com o timing entre algumas operações que fechava diariamente enquanto trabalhava com trading, às vezes precisávamos fazer remessas de mercadorias para países muito pobres da África, como o Congo, e essas operações dependiam de diversos intermediários. O processo todo para fechar a operação cambial demorava quatro, cinco dias. Sendo que os produtos que estávamos exportando eram de extrema necessidade para aquele país, como alimentos e material de construção. Com o bitcoin, você resolve esse problema em instantes, dinamiza muito mais o processo e reduz custos drasticamente. Além dessa solução, também enxergo o bitcoin como um instrumento de proteção cambial e especulação financeira. Isso tudo me encantou.

 Ou seja, você acabou encontrando uma motivação tanto no aspecto de negócio quanto social?

Com certeza, eu costumo dizer que só trabalho com o que me dá um propósito maior e de certo modo ajuda a trazer impacto positivo na vida das pessoas. E tenho essa crença muito forte em mim. A tecnologia blockchain me traz esse sentimento de que eu vou poder no futuro fazer algo de bom por pessoas e também por empresas. O ativo digital é um instrumento muito forte de empoderamento.

Quais são os principais desafios que você tem que enfrentar no dia a dia de um mercado predominantemente masculino?

As mulheres enfrentam desafios em todas as áreas da vida, na área profissional não é diferente. Ainda há muito preconceito neste meio, não só por eu ser mulher, mas por aparentar ser mais jovem do que sou. Mas isso não é exclusivo da área de criptomoedas, o mercado financeiro como um todo é assim. E eu combato isso com muito conhecimento, informação e, principalmente, entendendo as necessidades dos clientes. Me colocando no lugar dele e analisando a melhor solução que eu posso oferecer.

Mulheres são mais conservadoras na alocação dos recursos financeiros da família. Além de serem também mais detalhistas, procurarem saber de todos os aspectos de um produto de investimento.


Aumento do interesse das mulheres no bitcoin

Você tem percebido um interesse das mulheres no mercado financeiro e criptomoedas? 

Sim, tenho percebido um crescente interesse de mulheres no mercado financeiro. O brasileiro de uma forma geral tem uma dificuldade na área de educação financeira. E as mulheres ainda mais, não por que elas sejam menos capazes, mas porque em muitas estruturas familiares não são delegadas a elas as decisões de alocação do patrimônio de investimento da família. Mas esse cenário está mudando. Mais e mais mulheres estão assumindo essas funções dentro das suas famílias e se interessando mais pelo mercado financeiro.

E isso se confirma na área de criptomoedas?

Sim, temos recebido mais mulheres do que antes. Mulheres querem conquistar sua liberdade financeira também e isso não acontece de maneira instantânea. É necessário comportamentos e decisões específicas para impulsionar isso. Desse modo, as mulheres do nosso século precisam ficar atentas às tendências do mercado e isso inclui enfrentar alguns desafios e assumir riscos. Quanto mais mulheres participarem desse movimento hoje, maior a chance de elas desempenharem um papel importante na construção dessa nova realidade, seja como investidora ou como profissional atuante no mercado.

Qual é a principal diferença entre homens e mulheres quando se trata de investir seu patrimônio?

De uma forma geral, mulheres são mais conservadoras na alocação dos recursos financeiros da família. Além de serem também mais detalhistas, procurarem saber de todos os aspectos de um produto de investimento, com muita particularidade, antes de optar por ele. Acho que isso ocorre porque a mulher preza bastante pela proteção familiar através do instinto materno. Ainda, isso não é generalizado. Tenho clientes mulheres com apetite de risco bem elevado também. Tudo depende do perfil da pessoa.

E no caso de mulheres, qual é a sua estratégia de abordagem?

Procuro entender as necessidades da cliente e mostrar com detalhes por que ela deve destinar uma parcela de seu patrimônio para as criptomoedas. Mostrar os diferenciais do mercado, o potencial da tecnologia para os próximos anos, a curva de adoção crescente, a natureza anticíclica do ativo e a grande inovação que representa. E isso vale também para os homens.


Dedicação e estudo são chaves para entender mercado

É preciso se dedicar muito para entender esse mercado?

Sim, é preciso um tempo considerável por dia de leitura para aprender e se atualizar em tudo que acontece. Se eu fosse aconselhar alguma leitura, seria a assinatura de algumas newsletteres como a Unbankd, Chainletter, Decrypt Daily Debrief, The Block’s Daily Brief, Off the Chain e a Kapronasia e sites como o Coindesk e Cointelegraph. E o PanoramaCrypto também (risos).

E mesmo uma pessoa que está começando consegue começar a entender esse mercado através dessas leituras?

Sim, é importante filtrar a informação. Por exemplo, agora estamos vendo um momento forte de ascensão de STO (oferta de security tokens, ativos mobiliários com representação digital criptografada) e stablecoins (tokens pareados a alguma moeda ou commodity). E isso está muito forte na mídia especializada. No passado, foram os ICOs (oferta de tokens com propósitos específicos) que dominaram o noticiário. 

A diferença salarial entre homens e mulheres afasta as mulheres do mundo de criptomoedas?

Não vejo dessa forma. Acredito ainda que seja mais uma questão cultural. Em algumas áreas da economia, como tecnologia, tem mulheres ganhando mais que homens.

Eu gosto muito da frase: “a big swing is a big opportunity”. A blockchain e as criptomoedas são exatamente essa grande mudança que abrem grandes possibilidades.

Bitcoin é instrumento de empoderamento

Como você acha que é possível aproximar as mulheres do mercado financeiro, das decisões de investimento de uma família?

Primeiro é preciso incluir mulheres nessa discussão desde sua juventude, principalmente quanto a educação financeira. Precisamos mudar a mentalidade do brasileiro em relação à renda variável, ainda existe ceticismo nesse tema e uma certa predileção à renda fixa e previdência privada. O melhor caminho para aproximação seria através de informação.

Para as mulheres que querem investir no bitcoin e outras criptomoedas hoje, qual é o seu principal conselho?

Estude bastante e se informe. Eu acredito muito na blockchain, ela abre possibilidades imensas, até mesmo em relação a trabalho nessa área. Embora a tecnologia já exista há dez anos, ainda há muitas aplicações a serem desenvolvidas. Hoje, já há um número grande de possibilidades, desde investimentos até no desenvolvimento de projetos nessa tecnologia. E certamente vai ser um grande instrumento de empoderamento, não só de mulheres, como de todos os cidadãos. Eu gosto muito da frase: “a big swing is a big opportunity” (uma grande mudança é uma grande oportunidade, em tradução livre). A blockchain e as criptomoedas são exatamente essa grande mudança que abrem grandes possibilidades.


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