Desconhecimento atrasa adoção da tecnologia blockchain

Privacidade de dados e ganho de eficiência são alguns dos benefícios citados por especialistas durante o Fórum Blockmaster

Por Redação  /  31 de agosto de 2020
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A falta de conhecimento sobre a tecnologia blockchain é um dos empecilhos para sua adoção mais ampla, avalia Hugo Pierre, CEO da Growth Tech. Vencidas essas travas, a adoção da blockchain trará uma série de benefícios, entre eles mais controle das pessoas sobre dados pessoais e um ganho de eficiência para bancos. Essa é a opinião de executivos da área que participaram de debate do Fórum Blockmaster.

Segundo Pierre, muitas vezes até o mundo corporativo conhece pouco a blockchain. Ele vê a tecnologia como algo disruptivo, mas não tão complexo quanto o mercado diz. Assim, as pessoas tendem a adotar uma posição mais conservadora, travando o debate.

Outro fator citado por ele como trava ao avanço da adoção da blockchain é a falta de cases mais realistas do uso dessa tecnologia. Isso iria tangibilizar os resultados e mostrar os pontos positivos da adoção de um protocolo como este em outras áreas.

Adoção da blockchain permite revogar acesso a dados

Entre as possibilidades oferecidas pelo blockchain, Roberto Machado, CEO da BetaBlocks, cita o controle sobre seus dados, tema tão importante com a iminente entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados  (LGPD) no Brasil. Machado explica que, nos EUA, pela lei, informações de exames são de propriedade dos hospitais. Entretanto, é possível usar a blockchain para reunir esses dados e permitir que o paciente os “leve” consigo, apresentando-os onde for necessário. A tecnologia também permitiria revogar o acesso aos dados. Isso seria útil, por exemplo, ao deixar de trabalhar em uma empresa. Desta forma, seus dados sensíveis não mais estariam acessíveis ao ex-empregador.

dados blockchain
Falando sobre criptomoedas, Fausto Vanin, sócio da OnePercent, cita o ganho de eficiência para o sistema financeiro, “que luta constantemente contra uma baixíssima eficiência”. Ele defende, ainda, que as moedas digitais auxiliarão nos negócios em um mercado cada vez mais global e sem fronteiras. Operar neste cenário, diz Vanin, é um desafio, sobretudo quanto à operabilidade das moedas dos países.

Portanto, os indícios apontam para um futuro promissor. Um dos que acreditam nisso é Pierre, da GrowTech, que vê também boas perspectivas para a tokenização. “O futuro do dinheiro como um todo está muito fadado ao formato digital. E a criptomoeda, estando aí há um tempo, circulando dentro deste ecossistema, levará vantagem quando isso for uma realidade factível”, afirma.

Real digital em seis meses

E acrescenta que os órgãos reguladores brasileiros dão sinais de maior presença das moedas digitais nas discussões, seja o Banco Central ou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No caso do BC, discute-se a viabilidade da criação do real virtual. E o martelo será batido em seis meses, contou Aristides Andrade, chefe adjunto do departamento de tecnologia da informação à Folha de São Paulo. Andrade também coordena o grupo de trabalho sobre o tema no BC.

Nesse sentido, Fernando Bresslau, da Fundação Celo, conta que realizou pesquisa com 60 pessoas de todo o Brasil. Destes, dois ou três não tinham usado dinheiro vivo nos últimos seis meses. Ele avalia, então, que o dinheiro já é digital. Mas não de forma “muito alinhada com a liberdade individual das pessoas”. “Você está vazando muita informação para muita gente sem saber, sem ter controle”, explica. 

Ele observa, ainda, que a adoção de tecnologias crypto por bancos centrais vai acontecer. Entretanto diz que as moedas mais de autoridades centrais vão conviver com as descentralizadas, como o bitcoin, por um longo tempo.

Machado, da BetaBlocks, explica que não é que os bancos centrais não farão uma troca de suas moedas por criptomoedas. Mas haverá uma adoção do blockchain pelos bancos.


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