Como o bitcoin dá poder às pessoas contra regimes autoritários

Na Venezuela, por exemplo, cidadãos têm na criptomoeda uma alternativa para receber dinheiro do exterior e manter seu valor diante da inflação

Por Redação  /  24 de janeiro de 2019
Obra do artista Bansky Obra do artista Bansky

A situação na Venezuela já é conhecida. Com sua economia destruída e uma inflação astronômica que reduziu a pó qualquer poupança individual, milhares de pessoas têm de escolher entre viver na total escassez de alimentos e produtos básicos ou se refugiar nos países vizinhos. Os que ficam, no entanto, estão vendo no bitcoin uma maneira de conservar o valor de seu dinheiro. Ainda que a criptomoeda tenha tido uma queda superior a 80% no ano passado, nada se compara à destruição de valor que a inflação provocou na vida dos venezuelanos.

Ou seja, para pessoas vivendo em regimes autoritários, o bitcoin pode ser um importante salva-vidas. Sua estrutura descentralizada impede que governos tenham qualquer ingerência sobre a rede ou mesmo sobre seu valor. Nem mesmo um eventual corte de acesso à internet seria totalmente eficaz, já que hoje existem satélites que permitem o acesso à blockchain mesmo sem um acesso à internet.

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Um exemplo são as remessas internacionais. Diante da sua situação atual, o governo de Nicolás Maduro está criando barreiras para a entrada de recursos do exterior. Assim, transações como essas podem ter taxas de até 56% do valor transferido para conversão de dólares para bolívares. Além disso, recentemente, bancos venezuelanos passaram a impedir IPs de outros países de acessar as contas correntes online.

Para contornar essas barreiras, alguns venezuelanos passaram a receber bitcoins de parentes no exterior. Assim, é possível mandar uma mensagem de texto para uma pessoa no exterior pedindo bitcoin e receber em minutos. E o melhor é que o governo não consegue impedir isso, já que a rede do bitcoin não passa por bancos ou terceiros, ao invés disso, é feito de forma peer to peer, diretamente para a wallet do recebedor. Em seguida, o cidadão consegue trocar os bitcoins por dinheiro fiduciário por meio de uma exchange local no estilo Craiglist. Ele pode ainda carregar a sua chave privada no flash drive ou simplesmente memorizá-la.

Outros exemplos

Outros exemplos ao redor do globo dão a medida do poder que o bitcoin e as altcoins dão às pessoas. No Zimbabue, a impressão desenfreada de dinheiro também levou a uma hiperinflação. Na China, o governo pode rastrear todas as transações feitas no Alipay ou no Wepay, mas não tem poder sobre a blockchain do bitcoin. Na Rússia, o presidente Vladimir Putin pode congelar contas bancárias, mas não pode interferir nas wallets privadas. Até num campo de refugiados, alguém pode receber bitcoins desde que consiga uma conexão à internet.

Os próprios regimes autoritários já reconheceram o poder das criptomoedas. Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro criou uma criptomoeda estatal, o Petro. Irã e Arábia Saudita têm iniciativas semelhantes. A verdade é que em países como a Venezuela, o dinheiro físico está cada vez mais inviável. Além disso, da China à Suiça, os países estão rumando na direção de um futuro sem moedas físicas. Assim, é imprescindível que continuemos a explorar a qualidade peer-to-peer no dinheiro digital para as futuras gerações.

Esse texto é um resumo de artigo publicado originalmente na Time.


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