CBDCs podem ser o Cavalo de Troia para impor juros negativos

As moedas digitais emitidas por bancos centrais podem dar às instituições financeiras maior poder sobre os ajustes de taxas de juros e trazer riscos ao mercado

Por Redação  /  20 de setembro de 2021
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Embora as moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs) tenham sido idealizadas com o propósito de se comportarem como as cédulas papel-moeda, na versão digitall, na prática, elas poderão dar mais poder às instituições financeiras tradicionais. 

Isso porque, com a perspectiva dos bancos instituírem taxas de juros negativas, com o objetivo de fomentar o consumo e movimentar a economia, muitos cidadãos podem preferir guardar o dinheiro físico para evitar perdas. Em outras palavras, ao guardar o papel-moeda “embaixo do colchão”, os usuários imaginam evitar possíveis perdas decorrentes dos juros negativos. 

O assunto é tema de um artigo publicado pelo Wall Street Journal em 8 de setembro. Nele, o colunista James Mackintosh considera que as pessoas tendem a manter o dinheiro físico, mesmo sem qualquer rendimento, ao invés de correrem o risco de perder dinheiro com moedas digitais emitidas por bancos centrais.

Juros negativos enfraquecem as moedas nacionais

Vale explicar que taxas de juros negativas são usadas como recurso pelas instituições financeiras em tempos de crise econômica para encorajar o consumo e o crédito. Atualmente, nos Estados Unidos, tais taxas estão em 0,25%, de acordo com o Federal Reserve Economic Research. No início da pandemia, em março de 2020, as taxas caíram a zero. 

Além disso, vários bancos centrais já adotaram juros negativos: o Banco Central Europeu tem uma taxa de -0,5%; o Banco do Japão está em -0,1%; o Banco Nacional da Suíça, em -0,75%; e a Dinamarca tem taxa de juros de -0,5%. No entanto, apesar das taxas de juros negativas combaterem a deflação, essas politicas também podem enfraquecer o potencial de poupança dessas moedas.

Além disso, especialistas também alertam que moedas digitais também trazem pontos de atenção aos usuários, como a possibilidade de expiração após determinada data ou a vinculação de sua utilização a um determinado conjunto de bens, além da possibilidade de darem aos bancos maior poder de alavancagem com taxas de juros.

Porém, de acordo com o artigo do Wall Street Journal, o chefe do Centro de Inovação do Banco de Compensações Internacionais, Benoît Coeuré, garantiu que os bancos centrais estão trabalhando para evitar que as CBDCs sejam vistas como instrumento de política monetária.