Análise: A chegada do capital institucional e como Wall Street está se preparando para ela

CIO do Endowment de Yale expôs, pela primeira vez, o centenário patrimônio da instituição às criptomoedas e ativos digitais

Por Carlos Russo  /  24 de outubro de 2018
(Crédito:  © ssviluppo/123RF (Crédito: © ssviluppo/123RF

Apenas os dez maiores Endowment Funds de Universidades nos Estados Unidos gerem em torno de 200 bilhões de dólares em patrimônio, o equivalente a todo o valor de mercado de todos os ativos digitais em circulação. O maior deles, o fundo gerido pela Universidade de Harvard, tem patrimônio total de aproximadamente 40 bilhões de dólares. Para se ter uma ideia, apenas os patrimônios dos fundos de Harvard, Yale e Stanford são suficientes para quase igualar todo o Market Cap – valor de mercado – do Bitcoin, de aproximadamente 100 bilhões de dólares. O impacto que apenas uma fração dos patrimônios desses fundos poderia causar no mercado é sem precedentes. Entretanto, não é só o tamanho desses fundos que chama a atenção do mercado, mas também seu apetite para investimentos de risco.

Os Endowment Funds são parceiros de longa data como Limited Partners em diversos fundos de investimento em Venture Capital nos EUA. Um caso emblemático é o investimento do Endowment de Stanford no fundo Accel IX, da gestora Accel Partners. Nos anos posteriores ao estouro da bolha das pontocom, que ocorreu no ano 2000, os fundos VC tiveram grandes dificuldades para levantar capital dado os baixos retornos dos fundos cujo vintage year – termo que referencia o ano em que este foi iniciado – se deu imediatamente antes do crash. O Endowment de Stanford vinha investindo nos fundos da Accel e, naquele momento, amargando retornos ruins após a desvalorização das empresas de Internet.

Mesmo assim, mantendo-se fiel a sua filosofia de investimentos e à crença de que as empresas baseadas na Internet trariam grandes benefícios futuros, o fundo de doações de Standford se tornou um dos maiores investidores no fundo Accel Partners IX (2004), enquanto outros investidores institucionais, como fundos de pensão, recusaram o investimento. Basta dizer que, um ano depois, o Accel IX comprou 10% do Facebook por 12,7 milhões de dólares. Hoje a companhia esta avaliada em 500 bilhões de dólares e o resto é história. Mesmo considerando a diluição em rodadas posteriores podemos dizer que o potencial retorno não foi inferior a 1.000 vezes.

Carlos Russo

diretor de Investimentos da Transfero Swiss AG

Carlos Russo

diretor de Investimentos da Transfero Swiss AG

O tamanho dos Endowments Funds (...) os fazem um dos investidores institucionais mais importantes quando se fala em novas tecnologias

Não custa lembrar que boa parte das empresas que fizeram sucesso nos EUA nos últimos 30 anos foram constituídas por alunos e ex-alunos dessas instituições. Mas o que ainda impede estes fundos de investirem ainda mais nesta classe de ativos?

Segurança em pauta

Algo que restringiu até o presente momento uma entrada mais acelerada deste capital é a carência de certas estruturas, jurídicas e em termos de processos e tecnologia, capazes de trazer segurança para estes investimentos. Apesar da descentralização proporcionada pela tecnologia Blockchain ser o seu principal fator de disrupção, a sensibilidade em relação à segurança das chaves privadas que dão acesso aos ativos é, ainda, um fator de risco importante. A boa notícia é que grandes players do mercado financeiro nos EUA têm se mobilizado para construir a base para esse movimento de institucionalização. Nesse sentido, a entrada de Wall Street na cena não só cria as bases para a entrada do capital institucional, bem como destrava para esta classe de ativos os investimentos vindos da maior economia do mundo (EUA), que concentra mais de um terço da riqueza mundial.

Ambas as empresas devem tocar em um ponto fundamental e que deve revolucionar a maneira como empresas e indivíduos lidam com ativos digitais até agora. Se até o presente momento, a maioria das transações ocorre, ou de maneira peer-to-peer ou em exchanges com questionável nível de compliance e processos pouco transparentes, com a chegada dos grandes players, mais transações ocorrerão em ambientes altamente controlados, seguros e regulados, o que atrairá o capital institucional. Como consequência desse aumento de sofisticação, o Mercado de Futuros e Derivativos se desenvolverá. Instrumentos complexos como Contratos a termo, Futuros, Opções e Swaps, além dos aguardados ETFs devem ganhar espaço com a chegada das duas empresas.

Oportunidade de compra

Diante desses movimentos, a realidade de entrada do capital institucional está mais próxima do que imaginávamos, com reflexos de curto e médio prazo no preço do Bitcoin e outros criptoativos. Por ser um ativo escasso, a entrada de mais recursos financeiros tem o efeito quase imediato de apreciação nos preços. Além do ambiente favorável, o mercado dá sinais de que a barreira de 6 mil dólares dificilmente será rompida e o fundo já foi alcançado. Nesse sentido, podemos estar diante de uma das maiores oportunidades de compra desde meados do ano passado. Quem viver, verá.


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